quinta-feira, 9 de outubro de 2014

ÀS MARGENS DO RIO E DA SOCIEDADE- Uma Itaperuna Invisível

NinoBellieny

Numa estreita faixa de terra entre a Avenida Beira-Rio e as barrancas do Rio Muriáe dentro do perímetro urbano de Itaperuna, um grupo de 6 homens fincou a bandeira do abandono. Em uma barraca de camping e em outra improvisada com bambus e lona plástica, há alguns meses, estes senhores dominaram o pequeno território. Utilizam-se de um fogão improvisado cujo combustível são restos de madeira das muitas cargas e descargas ocorridas na área. Sob uma robusta árvore, deitam-se abraçados às garrafas de um outro tipo de combustível, mergulhando num estado de torpor permanente. Não vieram de longe, são dos subúrbios de Itaperuna, alguns escorraçados da própria família, cansada do alcoolismo e dos males a reboque, outros, por já terem perdido a noção de vida em sociedade como tradicionalmente se concebe, passam a coabitar às margens, em todos os sentidos. Sem banheiro e outras mínimas condições de higiene, sobrevivem.



Um deles, Salvador da Silva, 53 anos, luta por uma aposentadoria. Tem problemas no braço esquerdo, mostra laudos médicos. Ainda não é morador da minúscula comunidade dos esquecidos, mas, todos os dia  fica entre eles, bebe uma, toma outra e passa o tempo. É o único que aceita contar a razão de estar ali: " Me sinto entre amigos e tento ajudar de alguma forma." O hálito adocicado e forte lembra bebida barata e permeia a conversa. Os outros se ocultam. Um deles, prepara o almoço. São 11h de uma quente terça-feira e segundo Salvador, "aquele ali mexendo nas panelas está com tuberculose...". O cenário ficaria bem situado em um filme sobre a Grande Depressão Americana( 1929/1940), quando milhares de norte-americanos ficaram desempregados e passaram a morar em sub-acampamentos. A diferença é que estamos em 2014, no Noroeste do Estado do Rio- Brasil, e o número de pessoas ainda é menor. Grande mesmo, é a indiferença dos poderes públicos e de uma sociedade apressada e míope.


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