segunda-feira, 28 de julho de 2014

A INCAPACIDADE DO BRASILEIRO EM DIZER NÀO

Por Cláudio Tognolli.

Uma famosa linha aérea, há dois anos, divulgou um vídeo em que empinava uma mensagem básica aos gringos: brasileiro negocia e negaceia, como um touro espanhol de Murilo Mendes. Mas jamais sabe dizer “não”.
Medroso, o brasileiro prefere vocalizar um “vou pensar nisso”, em vez de liquidar a fatura com negativas.
Notemos: há uns quatro anos começamos a ouvir, sobretudo de cariocas, expressões que davam conta de “tons cinzentos” para certas situações. Não é para menos que “50 tons de cinza” fez sucesso bagaray por aqui. Brasileiro ama a indefinição com o mesmo fervor com o qual cariocas aplaudem o pôr-do-sol.
O brasileiro é um incerto que não sabe mesmo dizer “não”. É muito bom, e cai muito bem, o código de comportamento a  suster incertezas. O político brasileiro, como o cidadão comum, não sabe dizer “não”. Acorda  no palanque alheio, após uma noite de esbórnia, porque não soube dizer “não”. Quem não sabe dizer “não” ama, singularmente, tons de cinza: não têm, afinal, a pétrea e totalitária presença de uma negativa.
Muito se fala em punir corruptores. Eles só existem porque certos políticos não souberam dizer “não”. Petistas mensaleiros não souberam dizer “não” (até para quantias irrisórias, como 50 mil dinheiros...). Tucanos alstonianos não souberam dizer “não”.  Aécio teve decolada contra si a denúncia do aeroporto porque não soube dizer “não”.
Sabem daquela piada em que o masoquista pede ao sádico, de joelhos, “me bate, me bate, me bate, por favor...” E  o sádico lhe responde, altissonante e armagedonicamente, “Naummmmmmm!!!”?
O brasileiro não ri dela porque não sabe dizer “não”.
A estética vai por esse mesmo caminho: ama, de certos tempos para cá, a indefinição.
Há uns 10 anos você, por exemplo, só conseguia vender bem um instrumento, ou carro, se ele estivesse tinindo de novo.



Mas veio a Pós-Modernidade. Nela, o ruído (analógico) é muito bem-vindo no mundo digital (sem ruídos).
Jeans novos são mais caros se riscados. Playboys “envelopam” BMW’s para que pareçam velhas e desgastadas, como viaturas policiais em ação há anos...
O nome da indefinição na estética da Pós-Modernidade se chama “relic”. O vocábulo é empregado para instrumentos  e carros novos. Mas que são, industrialmente, esmerilhados, limados, sujados, tornados moles, até que pareçam “vintage” (antigos).
Eles são velhos, mas são novos. Ficam a meia-luz do tempo o que é uma forma de não dizer “não”: não são novos. Não são antigos.
Israel ficou chocado porque o Brasil (terra dos cordiais) disse àquele estado “não”. Esperavam o jeitinho brazuca, vulgo em cima do muro: nem sim, nem não. Esperavam, daí, o nosso velho estilo bunda-mole, amiúde e enfim.
A Confederação Israelita de São Paulo teve de deplorar as frases deselegantes do porta-voz israelense --para poder se desculpar porque o Brasil não ficou em cima do muro, como se esperava. O Brasil teve a coragem de dizer não. E bestificou os desavisados. Queriam o nosso repassado “vou pensar, e amanhã El Rey dará uma resposta”.
A ética do brasileiro é a do técnico de futebol de praia Neném Prancha. (Antonio Franco de Oliveira (Resende-RJ, 16 de junho de 1906 — Rio de Janeiro-RJ, 17 de janeiro de 1976), mais conhecido como Neném Prancha, foi um roupeiromassagistaolheiro e técnico de futebolbrasileiro. Ganhou a alcunha de O Filósofo do Futebol de Armando Nogueira, por suas frases engraçadas.)
Neném Prancha, entre outras, referia: “Jogue a bola pra cima, pois enquanto ela estiver no alto não há perigo de gol".
A bola “no alto” é a garantia de que o jogo está suspenso: e que não há nem sim, nem não. Brasileiro gosta é disso: nem sim, nem não. O que, digamos e convenhamos, é puro “tom de cinza”, é puro “relic”.
Diz algo, não?

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